2 de jul. de 2009

Do Que Não Escrevo

Tem gente que escreve coisas bonitas, fáceis e gostosas de ler. Que sabe pegar algum negócio banal e transformar num textinho interessante e pra cima. Falar das coisas boas que acontecem. Deixar a gente com uma sensação de felicidade quando chega o último ponto final. Eu até que gostaria de saber fazer isso, mas não sei. Já tentei. Não sai nada que preste.

Tem gente que consegue falar de amores felizes e relacionamentos que deram certo. Quando me aventuro a falar de relacionamentos, só sai desastre. Tem gente que fala de amigos, de parentes, que canta e decanta o lado bom da humanidade. Eu, francamente, desconfio que a humanidade em geral, se é que tem um lado bom, faz o que pode pra se livrar dele.

Tem gente que fala do que há de belo na natureza. Eu, quando falo de natureza, é como metáfora ou analogia para as podreiras da vida. Tem gente que fala da bondade de deus. Eu sei que deus não existe e, se existisse, seria um tremendo sádico.

Não me entendam mal. Quem não me conhece e lê isso tudo que eu escrevi aí em cima deve estar achando que eu sou um maníaco depressivo. Um misantropo. Um grande chato, no mínimo. Para esclarecer: de depressivo não tenho nada. Passo a maior parte do tempo de bom humor. E quando me irrito — o que é muito, muito raro — não costuma durar mais do que cinco minutos. Misantropo? Não. Vá lá que seja, eu não curto muito a maioria das pessoas. Mas isso não é ser misantropo, é ser seletivo. Chato? Bom, aí fica a critério de vocês. E, para o caso de alguém estar se perguntando: Ateu? You betcha.

Enfim, aquilo que escrevo não é necessariamente aquilo que sou. Eu escrevo o que me incomoda. Eu escrevo o que detesto. Para mim escrever é emese, é sangria, é tosse. É tirar do estômago algo podre que engoli. Tirar do sangue um começo de sepsis. Botar pra fora a espinha de peixe na garganta. Eu escrevo o que, se não escrevesse, me envenenaria aos poucos. E aí sim, se não escrevesse, quem sabe eu não viraria um chato misantropo e mal-humorado?

Escrevo o que me faz mal. Escrevo o mal. Escrevo morte, medo, descaso, doença, pobreza, burrice, crueldade, traição. Escrevo aquilo que tiro de dentro de mim quando ponho no papel ou no HD.

Não escrever sobre você é elogio.

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