21 de abr. de 2010

Pontos de Vista

Não nos cabe julgar
Coisas ditas no leito.

Afinal, depende do lugar
O que é ou não vulgar.
O que, noutro contexto,
Seria falta de respeito;
O que é certo ou irregular;
O que, como, ou quando dar.

São, enfim, o dito e o feito
Apenas questões de conceito.

16 de abr. de 2010

XXX

Asa-delta em voo duplo, acopladas,
Borboletas se fodem, explícitas.
Hardcore sem pudor das visitas
Pelos ares da sala de estar.

14 de abr. de 2010

Primeira estrelinha que eu vejo....

Quem sabe alguém não me escute:
Quisera houvesse em Brasília
Um prédio como a Bastilha
(allez, enfants de la pute).

Desimportâncias

Conheço o destino dos elefantes
E sei que os tigres estão quase extintos
(Mas é forçoso dizer, e admito,
Tudo isso me soa desimportante).

Discutem-se as ogivas nucleares;
E algum ditador testou hoje outro míssil.
O mundo está cada vez mais difícil.
Mas que importa, se me basta me amares?

Não me diz respeito, se tenho a ti,
Se corre o mundo nova pandemia,
Se nunca terminou a guerra fria
Se a subnutrição assola o Haiti.

Depois penso nisso, outro dia, mais tarde:
eu sinto ainda, no canto da língua,
Um resto do gosto da tua saliva
E tudo é questão de prioridades.

9 de abr. de 2010

A Triste Verdade

Um poema não serve pra nada.
Não paga as contas de condomínio,
Nem as de água, luz e telefone.
Poema é algo que não se come,
Sem sabor, ou valor nutritivo.
E não há um só registro na história
Contemporânea, clássica, antiga
De soneto, de trova ou cantiga
De consequência digna de nota.
Um poema não serve pra nada,
Mas pior que o poema é o poeta:
O poema é apenas a obra
Que o autor por vaidade arquiteta.
Nada há, pois, em todo o universo
Mais inútil que o bardo e seus versos.

5 de abr. de 2010

Anatomia

Há os que escrevem coisas belas,
Construtivas
E morais.
Há quem escreva o que há no peito
E nas almas
imortais.
Coração, pelo que sei,
É uma bomba,
Nada mais.
Quanto à alma, convenhamos,
Se a tenho,
Desconheço.
Me perdoem os sensíveis,
E os bonzinhos
E os carolas,
Mas escrevo com a cabeça
E, às vezes,
Com as bolas.

1 de abr. de 2010

Ambicanhoto

Não dá pra levar muito a sério
quem trave no crânio combate
incessante entre os dois hemisférios.
Seja lá guerra fria ou détente,
Ou quiçá Apocalypse Now.
Acabo ficando eu refém
Da guerra pelo córtex frontal.
Dançando com dois pés esquerdos,
Nas mãos dos meus lobos, brinquedo.
E se quero correr para um lado
Acabo correndo pro errado.
Não podia, enfim, eu dar certo:
Sou canhoto num corpo de destro.