26 de mai. de 2009

Lamento de um foodie fodido

I

Ah, quem dera estar em terras de França e, num porão qualquer de Isigny sur Mer, abrir um verdadeiro camembert, em vez dessa porcaria pasteurizada a que a vigilância sanitária nos obriga. E que se danem as lombrigas.

II

Caviar, quem sabe. Sevruga com blinis. Ou, já que estamos no plano da imaginação, um beluga, até? Mas não o de Taubaté. Esse não.

III

Imagine:
Charcutarias finas de Viena. Uma baguette saindo do forno. Uma taça de rustico frutado.

Só mesmo com muito esforço pra esquecer o retrogosto.
(Fanta uva e pão com ovo)

IV
Um dia alguém falou do aspecto fálico do almofariz, da natureza quase onanista de seu manipular. Perdi para sempre o gosto pelo pesto. E cortei relações com aquela vaca freudiana.

V
Hoje, por preguiça de cozinhar, jantei uma sopa Campbell’s de ervilha. Agora, vejam só que maravilha, estou me sentindo super pop-art.

VI
Um foodie qualquer worth his salt
aceitaria de bom grado
um espresso Kopi Luwac
e macarrons da Ladurée.
Mas às vezes basta café
(de coador) e uma caixa
de caramelos de Avaré.

VII
Que Deus me livre de Evian e S. Pellegrino, essas marcas de água pequeno-burguesas. Eu quero é uma taça de Fiuggi ou de Volcanic, uma Sole, ou Siana, ou Lauquen, ou Le Bleu, pra beber euros por gole e sentir na língua algo diferente do gosto ácido-amargo de água de torneira guardada na moringa.

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