20 de ago. de 2011

Buquês de Rosas Vermelhas

Olha a mulher que se acha feia.
Em casa, sozinha
numa noite de sexta-feira.

Uma taça de vinho
(é noite de sexta-feira).
No banheiro,
defronte o espelho,
a mulher que se acha feia
fita-se de frente e de lado,
brinda com seu reflexo
e sonha ver-se linda.
E sonha ver-se amada.

A mulher que se acha feia
reclinada na banheira.
Um livro e uma taça de vinho.
E o sonhar em segredo
com toques de dedos
que a conheçam tão bem
quanto ela se conhece.
Um breve tremer de pernas nuas.
Um gemido. Uma lágrima. Duas.
(a mulher que se acha feia, estranhamente,
chora, quando goza, o companheiro inexistente).

Gillette e uma taça de vinho.
A mulher que se acha feia,
com gestos bem calculados,
esculpe com todo o cuidado
os contornos dos pelos do púbis
que ninguém irá tocar.
E imagina ver no fluxo
dos jatos da jacuzzi,
surgindo dos pulsos,
buquês de rosas vermelhas
que ninguém jamais lhe deu.

Um comentário:

liz disse...

uau!

q delicadeza.