13 de jul. de 2010

Legado

Tens aqui a minha carta-testamento.
Com tristeza é que te deixo este legado.
Preconceitos e ideais equivocados
são o triste patrimônio que te lego.
Este dote que confio a ti, lamento,
é o mesmo que a mim antes foi deixado.
O que tens por tua herança é o mesmo fardo
que a mim veio de meus pais e que carrego,
acrescido das escolhas que fiz, cego,
convencido de que defender o lado
que pensava ser o meu era correto.

Me perdoa se te deito sobre as costas
a partilha que ora vês a ti imposta.
Olha bem o que te deixo por espólio,
o quinhão que te restou dos meus enganos:
as perguntas a que nunca dei resposta,
estas crenças que serviram-me de antolhos
e as mentiras que aceitei durante anos,

Dá ouvidos às palavras que te digo,
te liberta da ilusão a que te apegas,
o conselho que te dou, guarda contigo:
se tu tomas teu irmão por inimigo,
se as fronteiras entre esta e outras terras
são tão falsas quanto falso é o perigo,
de que importa se é vencida ou não a guerra?

Este é o saldo da minha vida que te cabe,
o saber, ainda em tempo, da verdade
pra que, espero, ao sabê-la não cometas
tantos erros quanto eu em tua idade.
Que tu possas ter por pátria este planeta
e que tenhas por nação a humanidade.

3 comentários:

Lúcia Gönczy disse...

Allan, eu gostaria de ter palavras em punho para expressar o quanto "Legado" me tocou. Mas deixo-te apenas o meu silêncio. Um silêncio todo arrepiado, extasiado, admirado. Você é um grande cara!!!
Bom de Porrada, Bom de Legado, Bom de Amizade.
Parabéns

Beijão da sua parceira de bagaça e "fã incondicional"

Lúcia Gönczy

Ana disse...

Que lindo!!! Vc se superou!!!
Parabéns!!!

Cecilia Ferreira disse...

!!!