4 de nov. de 2010

Alzheimer

Além das rachaduras da fachada.
Além dos portões,
do ranger das dobradiças,
depois do hall de entrada:
o velho salão.

Que é feito das festas
onde hoje há só teias e traças?
Onde hoje poeira e luz baça,
outrora boleros,
outrora foxtrotes e valsas.
Que é do rodar de vestidos?
Dos tules e tafetás?
Das risadas dos convivas?

Nada resta no velho salão
a não ser a vaga memória
daquilo que foi um dia:
o centro da casa em ruínas.

No meio do assoalho,
uma joia esquecida
brilha de vez em quando
sob a luz das claraboias,
e o salão se lembra e chora.

3 comentários:

Juliana M. Mesquita disse...

Nossa, me faz sentir o peso do tempo quando as memórias são as únicas coisas que lhe restam.

Betty/liz disse...

lindíssimo!

Flá Perez (BláBlá) disse...

adorei o salão se lembrar...eu li, memórias e pensei "ué, mas com alzeimer não tem memória" e que surpresa: era o salão...triste.