Em novembro a força da gravidade
E os manacás, ipês, jacarandás
Fazem das calçadas da cidade
Uma caixa de crayons da Caran d’Ache.
29 de out. de 2009
28 de out. de 2009
Ração Premium
Mora dentro do meu peito um cão pastor
que alimento todo dia só de sangue
de unicórnios cor-de-rosa e furta-cor
e de lindos e gorduchos teletubbies.
Quero mais que se estrumbique, que se exploda
quem critique, denuncie, quem comente
E quem diga ser estranha essa dieta
E que o bicho não hesite, antes morda
com vontade a bunda mole dessa gente
tão politica(la)mente(-se) correta.
tão politica(la)mente(-se)
que alimento todo dia só de sangue
de unicórnios cor-de-rosa e furta-cor
e de lindos e gorduchos teletubbies.
Quero mais que se estrumbique, que se exploda
quem critique, denuncie, quem comente
E quem diga ser estranha essa dieta
E que o bicho não hesite, antes morda
com vontade a bunda mole dessa gente
tão politica(la)mente(-se) correta.
tão politica(la)mente(-se)
27 de out. de 2009
Subreal
Escrever um poema catarse,
rasgar, com pena de aço,
a pele fina do lado
de dentro do braço.
Escrever um poema vermelho:
copiar em sangue e pus
a imagem no espelho
de olhos de cão andaluz.
rasgar, com pena de aço,
a pele fina do lado
de dentro do braço.
Escrever um poema vermelho:
copiar em sangue e pus
a imagem no espelho
de olhos de cão andaluz.
22 de out. de 2009
Dinastia
(postado originalmente no blog gótico Vale das Sombras - link na lista ao lado)
Toma o dom desta oferenda:
fecha os olhos, ergue o queixo
sente os dentes na garganta.
O presente que te deixo
é a força, amor, que espanta
esta dor que te atormenta.
Não há pena, te asseguro,
Pra quem vença a própria morte
(não há deuses, nem inferno).
Te farei minha consorte,
Serei teu marido eterno:
Reinaremos no escuro.
Toma o dom desta oferenda:
fecha os olhos, ergue o queixo
sente os dentes na garganta.
O presente que te deixo
é a força, amor, que espanta
esta dor que te atormenta.
Não há pena, te asseguro,
Pra quem vença a própria morte
(não há deuses, nem inferno).
Te farei minha consorte,
Serei teu marido eterno:
Reinaremos no escuro.
21 de out. de 2009
Anacronismo
Acreditem ou não, há quem diga
que hoje vivem aqui velhos mitos
degredados da Hélade antiga
e dos bosques da Arcádia banidos.
Que uma dríade ainda está viva,
escondida no caos paulistano,
disfarçando-se de executiva,
por detrás de orçamentos e planos.
E que um fauno usa roupas de grife,
camuflando do jeito que pode
sua cauda, seus pelos, seus chifres,
os seus cascos e patas de bode.
A metrópole é um tipo de Hades,
é um mundo distante do seu,
onde matam um no outro as saudades
do que tinham à beira do Egeu.
que hoje vivem aqui velhos mitos
degredados da Hélade antiga
e dos bosques da Arcádia banidos.
Que uma dríade ainda está viva,
escondida no caos paulistano,
disfarçando-se de executiva,
por detrás de orçamentos e planos.
E que um fauno usa roupas de grife,
camuflando do jeito que pode
sua cauda, seus pelos, seus chifres,
os seus cascos e patas de bode.
A metrópole é um tipo de Hades,
é um mundo distante do seu,
onde matam um no outro as saudades
do que tinham à beira do Egeu.
17 de out. de 2009
Picadeiro
De frente pra platéia,
o cara equilibra rimas,
joga palavras pra cima
como quem faz malabarismo
com três motosserras ligadas
e seis granadas sem pino,
mas sabe que o público espera
é só pra ver se ele erra.
Só isso e mais nada.
o cara equilibra rimas,
joga palavras pra cima
como quem faz malabarismo
com três motosserras ligadas
e seis granadas sem pino,
mas sabe que o público espera
é só pra ver se ele erra.
Só isso e mais nada.
30 de set. de 2009
Fútil
Agarra a gárgula pela garganta.
Garroteia.
Amarra a aranha na própria teia.
Põe pra correr o próprio Cão.
Mata o monstro e mostra o pau.
(em vão)
De que te vale qualquer façanha,
herói, se, afinal,
a donzela que amas te odeia?
Garroteia.
Amarra a aranha na própria teia.
Põe pra correr o próprio Cão.
Mata o monstro e mostra o pau.
(em vão)
De que te vale qualquer façanha,
herói, se, afinal,
a donzela que amas te odeia?
29 de set. de 2009
Sobre um mote
("Recaída é o nickname do diabo." - Tati Bernardi)
O certo seria, no fim duma história,
deixar para lá e se dar por contente.
Deu certo? Beleza. Não deu? Tudo joia.
Azar, paciência. E bola pra frente.
Problema é a gente ficar nessa noia,
de achar que o tal fim pode ser diferente,
sonhar fantasias que em nada se apoiam,
não ver que é um erro e tentar novamente.
Descaminho que começa onde termina,
cicatriz que se desdobra em chaga aberta,
cobra estúpida que morde o próprio rabo.
Insistência em conhecer uma só sina,
um destino só que nunca se completa.
Recaída é o nickname do diabo.
O certo seria, no fim duma história,
deixar para lá e se dar por contente.
Deu certo? Beleza. Não deu? Tudo joia.
Azar, paciência. E bola pra frente.
Problema é a gente ficar nessa noia,
de achar que o tal fim pode ser diferente,
sonhar fantasias que em nada se apoiam,
não ver que é um erro e tentar novamente.
Descaminho que começa onde termina,
cicatriz que se desdobra em chaga aberta,
cobra estúpida que morde o próprio rabo.
Insistência em conhecer uma só sina,
um destino só que nunca se completa.
Recaída é o nickname do diabo.
26 de set. de 2009
V. zoster
Algumas mulheres são doenças.
Vêm, vão, deixam sequelas.
Algumas, mas não aquela.
Se doença era, era catapora:
Deixou marcas? Sim, deixou.
Mas depois foram embora.
Vêm, vão, deixam sequelas.
Algumas, mas não aquela.
Se doença era, era catapora:
Deixou marcas? Sim, deixou.
Mas depois foram embora.
24 de set. de 2009
Notícias populares
O mau poeta acossa a musa.
Não admite recusa,
nem se conforma com um “não”.
O mau poeta não desiste:
protocolo, formulário em três vias,
requerimento, recurso — em vão.
Ataca, então, rasga-lhe a blusa:
abuso em busca de poesia,
estupro à guisa de inspiração.
Crava os dentes no peito
ainda quente, embora inerte,
e suga até que repleto
do sangue que o seio verte.
Foge dali safisteito,
pensando com seus botões,
“Agora me sai um poema que preste”.
Não admite recusa,
nem se conforma com um “não”.
O mau poeta não desiste:
protocolo, formulário em três vias,
requerimento, recurso — em vão.
Ataca, então, rasga-lhe a blusa:
abuso em busca de poesia,
estupro à guisa de inspiração.
Crava os dentes no peito
ainda quente, embora inerte,
e suga até que repleto
do sangue que o seio verte.
Foge dali safisteito,
pensando com seus botões,
“Agora me sai um poema que preste”.
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