Muitas vezes, quando chega o fim de tarde de domingo, vou a um bar que fica aqui na esquina, sento embaixo de uma jabuticabeira e leio. Meus amigos sabem que é lá que costumo estar e às vezes aparecem. Às vezes não. Desta vez estávamos só Jane e eu.
Não é exatamente o tipo de lugar que costumo freqüentar. À uma da manhã, em plena quarta-feira, sempre tem uma fila de gente produzida em série esperando para entrar. E eu não pego nem fila, nem gente produzida em série. E ponto final.
Mas o lugar é uma boa solução para mim nas tardes de fim-de-semana. Fica a uns 50 metros de casa, tem um chopp bem tirado, uma boa seleção de bebidas, serviço bom, comida boa (e as árvores). Não é barato, mas, como economizo o táxi, ficam elas por elas. Além disso, tem uma parte ao ar livre e dá pra fazer fotossíntese.
Enfim, lá estava eu às cinco e meia da tarde, de posse de Sense and Sensibility. Confesso, envergonhado, meio inglês que sou, que nunca li Jane Austen. E confesso, ainda mais envergonhado, que não estou gostando muito. Ainda que a estória seja boa e o comentário social, devidamente mordaz, a linguagem é datada demais. Mas estou decidido: vou terminar de ler esse negócio.
Sentei no meu lugar predileto, pedi um chopp e pastel de siri com pimenta rosa e me enfiei nas façanhas da família Dashwood. O bar começou a encher e, como o livro não prendia a minha atenção e não apareceu ninguém pra jogar conversa fora, comecei a observar as pessoas.
As mulheres, quase todas, ostentavam um ou mais tons de loiro engarrafado, com as raízes mais escuras quase sempre bem visíveis; a maioria dos homens era gorda e flácida, ou garotões bombados de esteróide. Ou, em alguns casos, encontravam-se naquela transição esquisita entre um estado e outro. Marmanjo de bermuda e boné com a aba virada para trás. Garotas mal saídas da adolescência de pretinhos básicos minúsculos e cobertas de bijoux – em pleno dia! Coisas que meu senso estético simplesmente não consegue processar.
Observar os rituais de acasalamento dos humanos é engraçado. Tinha dois caras em pé junto ao bar, urubuzando o lugar. Sempre que alguma mulher olhava mais ou menos para o lado deles, imediata e quase instintivamente encolhiam suas respeitáveis barrigas de cerveja. Também tinha três meninas obviamente siliconadas e botocadas (aos vinte-e-poucos anos!) que foram abordadas algumas vezes. Imediatamente estufavam seus peitos hiperinflados, jogavam o cabelo amarelo de lado e olhavam, não muito discretamente, para o relógio e os sapatos do pretendente em potencial.
Quero crer que a Srta. Austen teria tido toda a cena por deveras interessante.
28 de jan. de 2009
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