Às vezes vejo por aí um fantasma que nem fantasma parece. Só de olhar pra cara do fulano a gente vê que é feliz, confiante na vida, ou, pelo menos, no sucedâneo de vida de que gozam os fantasmas. Que olha para a frente e vê um futuro definido e tranquilo. Que sua vida está resolvida e bem embalada. Que nem desconfia que esse embalo vai servir só para aumentar o tamanho do tombo. Fica andando por aí, como se vivo fosse, pelo apartamento claro e amplo que habita. De vez em quando fico olhando enquanto ele faz jantar para dois, blissfully unaware de que a vida não é como ele pensa.
Quando falam em assombração, a gente pensa em lugares antigos, escuros, lúgubres. Fantasmagóricos, enfim. Castelos ingleses. Abadias normandas. Velhas senzalas abandonadas. Não é bem assim: o mesmo apartamento modernoso que aquele fantasma assombra, que tem por fachada uma enorme janela e tanta iluminação natural que chega a incomodar, é morada, também, de outro espectro, esse de aspecto mais típico. Aquelas coisas que a gente espera de fantasma: pálido, olheiras, 60 quilos esquálidos distribuídos por seu metro-e-oitenta. Esse não assobia. Nem faz jantar. Quando muito, olha com pena, ou raiva, ou pena e raiva para o outro fantasma.
Eu olho para os dois e xingo as páginas amarelas porque não encontro anúncio de exorcista que ajude a gente a se livrar de fantasma de si mesmo.
4 de jun. de 2009
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