31 de dez. de 2008

Alien

Ia escrever um treco de Ano Novo, bem-humorado, feliz, otimista, que tivesse a ver com a vida de todo o mundo. Mas não saía nada além de elocubrações chatas e estéreis sobre a crise financeira. Desisti e resolvi escrever um outro treco de Ano Novo mais intimista, introspectivo, sei lá... Mas saiu meio irritado, raivoso, triste. E o fato é que hoje estou super-feliz e nem um pouco a fim de escrever coisas pesadas. Tudo bem, já escrevi, está quase pronto. Mas não vou publicar. Fica de reserva.

Tenho dois textinhos prontos para casos como este, de querer postar, mas estar sem idéia. Só que os dois também são bravos, tristes, até misantrópicos. E hoje não estou nem um pouco misantropo. Então ficam lá no HD esperando a sua chance. Um dia, quem sabe?

Bom humor parece não fazer bem para a minha inspiração. E fico com cara de bobo aqui na frente do computador, querendo escrever, mas sem conseguir, olhando para a cara do media player na tela da esquerda, fazendo cores e desenhos hipnóticos para mim. Não encontrava meu CD de jazz, devo ter deixado na casa de alguém, e resolvi gravar um novo durante o dia enquanto trabalhava. Só jazz, não. Jazz e blues.

Uma tremenda mistureira, na verdade. Meus amigos músicos iam ficar envergonhados. Ou eu ia, se eles vissem. Botei de tudo um pouco: dois Johns (Coltrane e Pizzarelli), Lightnin’ Hopkins, Nina Simone, dois Johnsons (Robert e Blind Willie)... Enfim, como eu já disse, tremenda mistureira.

De alguns, gravei álbuns inteiros. De outros, pincei umas coisas aqui, outras ali... Fiquei chateado porque não achei a minha predileta da Nina Simone. Que, já aviso, é polêmica: as pessoas me perguntam de qual a música dela mais gosto e já me preparo para ouvir montes depois de responder. Enfim, é Strange Fruit. Eu sei. Eu sei! Ela não é a cantora “oficial” dessa. Mas, com todo o respeito devido à dona Billie, tia Nina mata a pau.

Tem músicas que a gente precisa sentir entrar pelos ouvidos, descer pela garganta, alojar-se no estômago, destroçar a alma com os dentes e sair pelo meio do peito como se fosse o pior pesadelo do Giger. Essa é uma. E Billie Holiday, por mais Billie Holiday que seja, para mim não chega aos pés da Nina quando a idéia é não deixar pedra sobre pedra.

Outra música que para mim também é assim, na verdade é bem diferente: doce, calma, suave... te deixa num clima gostoso, e vêm os dois últimos versos e te pegam desprevenido e te dão uma voadora no meio do peito. Uma voadora sutil, vá lá, mas ainda assim... É I’m Alright Now, que tenho gravada pelo Pizzarelli. Fala do cara voltando à ativa depois de ser largado pela mulher e das coisas que tem feito e de como está bem melhor agora... e termina: “Of course I cry myself to sleep most every night / But with that slight exception I’m alright”.

Olha lá eu de novo. Tentando escrever algo gostoso para me despedir do ano que vai de um jeito legal e chutando o pau da barraca. Juro que eu estou de bom humor. Juro!

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